sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sobre um filme


“A visita da banda” é um daqueles filmes que interrompe a sucessão frenética de imagens cinéfilas criadas em antecipação ao prazer imediato e consumista, tão conforme à passividade contemplativa dos nossos espíritos actuais. Apesar de filmar uma banda da Polícia Egípcia perdida numa qualquer povoação no deserto Israelita, é o silêncio que domina a interacção dos personagens, porque é no silêncio dos gestos e olhares que se revela a profundidade das intenções, dos desejos, dos sonhos, dos compromissos. Embora perdidos numa frustração expectante perante a impotência de poderem honrar os seus compromissos, tocar numa cerimónia de iniciação, os músicos estão lá, alinhados pelo espírito de missão. O fardamento composto e limpo, confere-lhes legitimidade. Os instrumentos vão-se exibindo tímida e pacientemente, como os personagens, criando raízes sentimentais nos interlocutores. A música está sempre presente mesmo quando não está, escuta-se no silêncio da espera, na imobilidade dos corpos, na certeza de uma presença sem propósito mas consciente de um dever maior. O Chefe da banda, um general de aspecto sisudo e firme, não de severidade mas de consumação sábia do tempo, é a encarnação da serenidade, do respeito, da dignidade por uma causa essencial que não se esbate com a monotonia cromática do deserto. “A visita da banda” é um filme em que cada um de nós se reencontra num pequeno grande universo de relações interpessoais. É um aproveitamento eficaz e sustentável das circunstâncias de se estar perdido sem se estar, porque nada pode demover-nos, uma vez na vida que seja, da missão que nos é conferida superiormente sem pressas, a de sermos fieis e determinados perante aquilo em que acreditamos.
 
P.A.