domingo, 26 de agosto de 2012

Quanto Tempo?





Tempo. Tens tempo? Quanto tempo te resta? Quantas horas faltam para o ponteiro do manómetro chegar ao zero? Quantos dias ainda te sobram para respirar o mundo, a espiral dos ventos, o fumo irreflectido que se atravessa na estrada? Pesa-te o instante acabado de tudo o que não serás, a ânsia plantada sem enredo, longe do possível, por portas abertas sem recorte. Um dia poderá já ser tarde amigo, quando a vida se fechar em copas perante a possibilidade de recriação. Um dia poderá já não acontecer, quando o corpo se imobilizar numa esquina da avenida. Um dia poderá já ser a vontade a partir entre lamúrias e sedimentos acumulados. Um dia poderá já ser a solidão incapaz de alavancar o espírito, ou a recusa crónica em aceitar a mudança como condição de sobrevivência. Um dia uma folha em branco sempre por preencher pelo receio prudente e vazio. Uma lápide gravada com os anos esquecidos no tempo imprevisto. É por isso que existes mas não só por isso. O teu olhar recorda-me um futuro incompleto tornado presente, numa sucessão invertida de sentimentos que é a lógica dos afectos, o campo ilimitado de forças que rege os traços da tua face, a esperança exacta e não outra, o amor imprudente e capaz, a morte serena e refeita.


P.A.