Mais um Domingo, este de regresso de férias, ao entardecer, a consciência ténue no propósito de arrastar percepções sobre um tempo solto no convívio veraneante, entre amigos prolongados numa esplanada ao sabor tépido do ar que se embevece nos corpos tisnados e abertos ao toque irreal de conversas aleatórias. Um regresso que desbota pelo eixo consciente da vida como um facto residual e prepara a sinuosa diversão dos dias seguintes, recupera o enlace finito do tempo passado e projecta-o no desmando futuro, que o vai apropriando no conhecimento devagar da consciência sucessória. Uma pausa que nunca chega a fixar-se a nós, mas que é a transição necessária a interromper o curso da existência, sustendo a avalanche de imperativos pessoais que se formam a favor e contra, longe e perto dos outros, com ou sem sentido. Um regresso que é uma espécie de morte provisória que actua tanto quanto os ciclos da vida retomados, a conter o fluxo incontornável de presenças no espírito, restabelecendo-o na prostração fecunda das ideias. Um regresso necessário para assegurar o fio que encarna o riso, amar o reverso dos seres que irrompe na obrigação autêntica de se mostrarem, esgrimindo o âmago da natureza rude e compulsiva. Um regresso que é o apelo à possibilidade de nós pela impossibilidade de cumprirmos todas as coisas perante um fim, uma experiência deslocada que agora assenta em sentimentos de fundo, vivência informal que se abastece pela viagem compassada de lugares comuns, acerca-se do batimento ecuménico da vida e restabelece o ritmo cardíaco.
P.A.
P.A.