Tudo o que se consome sem escapatória
Como uma corda apertada e um náufrago
Esgotado contra um sonho inventado.
Deus é um código mutável e ondas arrasadas
De matéria instável, dias decifrados,
Construções que são desejos piramidais de criança,
Arrecadam o sentido fundado da esperança,
Comandada pelos infinitos grãos atirados
Na espessa seiva do início elementar do universo,
Um ponto, numa gota, uma gema concebida
Na convergência imponderável e volátil do éter.
É pelo silêncio da noite que a morte
Sossega na sua incompreensão,
Que o amor desperta na sua infusão
Contemplativa de quem descarta
Qualquer explicação absurda,
E não se conforma com a luz nocturna
Que choca contra a miséria do corpo
Despido na raça e fonte desregrada
De um peso sem freio e absorto.
Os olhos antevêem visões interiores
À velocidade desastrosa e casual
Da sensibilidade e entendimento originais,
Estagnam nas saliências obtusas do tempo,
Ficam incrédulos ao conhecerem a rudeza
Dos destroços da carne, abandonados
No braseiro caudaloso das águas infernais.
As construções interpelam a insignificância dos homens
Perdidos no caminho obscuro das cifras mundanas.
Edificam-se montanhas de coisas à medida
Do desespero invocado pela ilusão das sombras,
O medo une-se à existência pelo contraste das evidências,
Pela visão triste das ideias a afastarem-se para longe
De todos os esforços, na voracidade insana das ondas
Que levarão ao destino estimado do fim, sempre eterno,
Regulado pela cegueira fecunda, aos tropeções da fala,
Esgotamento da escrita, visão maldita.
É pelo silêncio da noite que se ouve o gemido
Por trás da muralha intransponível entre estar e acabar,
Entre a luz edificada e o crepúsculo do tempo ferido,
Afundado na angústia do espanto, sonho inventado
À medida de um náufrago, esboço de um condenado,
Perdido da impetuosidade devastada da idade do fim.
Preenche-se o quadro do tempo com cores imprevisíveis,
Abandonadas à sorte entre o segredo dos mortos
E aquilo que flúi no entendimento dos vivos.
Haverá alguém que componha os destroços
A um canto da memória, sem remorsos,
Explique o naufrágio do tempo a engolir vontades
E construções dispersas, almas submersas,
Energias acumuladas nas caves da terra,
Onde a morte renasce e a esta vida se encerra.
Haverá alguém que resvale na loucura da consciência,
Preso no atropelo dos factos por desvendar,
Acorde no precipício da luz antes da vida acabar
E pôr outro náufrago no seu lugar.
P.A.