domingo, 28 de setembro de 2008

A inércia


Andam devorados pelo desterro,
Cada pessoa um ermo, um segredo.
Nas enchentes cada um vai mouco,
Igual, erguido como um toco.

Guerreiros saturados de não haver batalhas,
Não há espada que atravesse suas malhas,
Nem ao menos um ataque fingido
Por um só mouro destemido.

Os mesmos guerreiros do passado
Vieram mansos num barco errado,
Suas lanças se quebraram no tempo,
E a glória é agora fingimento.

Comem a erva do fim das vertentes
Ao entardecer sós e indiferentes,
Porque a vida é um espaço convexo
Por onde tristes circulam sem nexo.

Ovelhas de inúmeros pastores,
Débeis caminhadas sem furores,
Do monte sem esperança regressam
Até ao degredo onde a vida cessam.

Venha o confronto com lugares estranhos
E disperse os olhares dos rebanhos,
Que ao longe o olhar cansado purifiquem
E no ermo seus desejos não fiquem.

Venha efémera tempestade sem causas
Que alivie a existência das eternas pausas,
Que alivie a alma da inércia dos corpos
E os embarque em outros portos.

P.A.

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