“A visita da banda” é um daqueles filmes que interrompe a sucessão frenética de imagens cinéfilas criadas em antecipação ao prazer imediato e consumista, tão conforme à passividade contemplativa dos nossos espíritos actuais. Apesar de filmar uma banda da Polícia Egípcia perdida numa qualquer povoação no deserto Israelita, é o silêncio que domina a interacção dos personagens, porque é no silêncio dos gestos e olhares que se revela a profundidade das intenções, dos desejos, dos sonhos, dos compromissos. Embora perdidos numa frustração expectante perante a impotência de poderem honrar os seus compromissos, tocar numa cerimónia de iniciação, os músicos estão lá, alinhados pelo espírito de missão. O fardamento composto e limpo, confere-lhes legitimidade. Os instrumentos vão-se exibindo tímida e pacientemente, como os personagens, criando raízes sentimentais nos interlocutores. A música está sempre presente mesmo quando não está, escuta-se no silêncio da espera, na imobilidade dos corpos, na certeza de uma presença sem propósito mas consciente de um dever maior. O Chefe da banda, um general de aspecto sisudo e firme, não de severidade mas de consumação sábia do tempo, é a encarnação da serenidade, do respeito, da dignidade por uma causa essencial que não se esbate com a monotonia cromática do deserto. “A visita da banda” é um filme em que cada um de nós se reencontra num pequeno grande universo de relações interpessoais. É um aproveitamento eficaz e sustentável das circunstâncias de se estar perdido sem se estar, porque nada pode demover-nos, uma vez na vida que seja, da missão que nos é conferida superiormente sem pressas, a de sermos fieis e determinados perante aquilo em que acreditamos.
P.A.
2 comentários:
"(...) porque é no silêncio dos gestos e olhares que se revela a profundidade das intenções, dos desejos, dos sonhos, dos compromissos(...)".
Só mesmo tu escreverias uma frase com esta profundidade e ao mesmo tempo com tamanha beleza estética...
* Todo o texto está magistralmente escrito, aliás como sempre
Beijo:)
" Fragmentos do que de mais forte existe dentro da minha alma e do meu olhar felino, estarão sempre presentes em ti " (...)
Beijo
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