sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Onde estás ?






Ainda me lembro de todas as pontes
Que me ensinaste a construir,
Peça a peça, sobre água, entre montes,
Até o encanto deixar de fluir.

Ainda me lembro, mãe, do teu grito
A perfurar a raiz do coração,
A romper um corpo interdito,
A manter-me quieto, a dizer não.

Ainda me lembro, mãe, de alguém
A afastar-se numa névoa indolente,
E eu estancado sem saber, de repente,
A ficar sem esperança de ninguém.

Ainda me lembro, pai, da tua visão
Sobrevivente no silêncio da casa,
Da ausência de uma explicação
Para o impiedoso corte de uma asa

Ainda me lembro, pai, de alguém
Que deveria segurar-me a mão,
Não sendo já o grito da minha mãe,
Mas a partida do meu irmão.


P.A.



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