segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Sem nome




Quero dizer-te o avesso das palavras
porque assim coincide o mundo
nas ilações nocturnas.

O que me alegra e entristece,
exaspera ou consola, 
é a linguagem do corpo
que se move com excepção,
a estranha comunicação
que se distancia do discurso
para se infiltrar na alma
que não se encontra. 

Não posso escapar-lhes é certo,
mas certo é que elas, as palavras,
escapam ao mais ínfimo filamento carnal 
para acabar em silêncio. 

O que quero dizer-te são coisas sem nome,
puras nas palavras que não escutei.
Hoje uma árvore que assim não se chama,
amanhã um beijo inocente e insignificante,
sem o invólucro do intelecto, porque não leio em ti
senão a bravura e consagração
da presença captada no começo
dos nomes que não demos. 

Quero dizer-te o que existe
sem palavras certas,
a liberdade desacertada do espírito 
num corpo vendado à dependência dos nomes,
o que se toca e chama no clamor
permanente das formas.

Não posso escapar-lhes é certo,
mas certo é que elas, as palavras,
me negam para sempre
a plenitude das causas.


P.A.

1 comentário:

Rute disse...

Paulo Sérgio


"A plenitude das coisas" não poderá nunca ser expresso por palavras...
Volto depois para deixar mais umas palavras, mas gostei muito e está incrivelmente bem escrito!

1 bj