Ao fundo vê-se o obelisco elevado na continuidade assente. A praia promete o desembarque das influências estrangeiras e traça o facto da terra descoberta. Mais para o interior as casas acolhem olhares pictóricos, povoações encarquilhadas de tanto conviver, sentem o mundo no presente perro de trabalho e acreditam no destino.
É Domingo. Dia dos sorrisos espalhados pelo largo da aldeia. Rumores trazidos do empenhamento nos campos, olhares parados no desperdício dos movimentos de quem passa. Fala-se muito alto para não haver dúvidas, ouve-se a presença pela voz e não interessa o que se conta, apenas ecos da nossa própria história. É preciso falar para calar a dúvida do silêncio. As palavras identificam-nos provisoriamente, espalham a nossa posição antes que se instalem interrogações mudas, uma existência pintada pelos outros. Vou até ao café mais próximo e a vida compadece-me na evidência intencional para que pendemos no acerto do passo. A existência é dotada de uma comicidade directiva que chega a ser triste quando nos pomos a sentir com os outros. Uma regressão imposta para darmos mais um passo, voltar atrás para continuarmos, gargalhada de improviso invocando o possível, desvio que depois deixa de o ser, o cão que passa, o velho que ri, andar eu assim pela rua abaixo em movimentos periféricos que se esbatem numa tela já vista. Tudo é comicamente triste. Cómico na autenticidade, triste na antevisão. O já visto que nos leva à morte negada, paradoxo edificado para um fim enviesado e atirado na explosão dos sentidos. Um sorriso que desmascara uma verdade arrancada de surpresa, a certeza de sermos assim sem sermos a nossa própria causa. Cumprimos a nossa essência em gracejos autênticos e tristes, uma certeza que se torna triste porque confinada à própria evidência. Triste na antevisão, triste no que já sabemos ter fim.
P.A.
É Domingo. Dia dos sorrisos espalhados pelo largo da aldeia. Rumores trazidos do empenhamento nos campos, olhares parados no desperdício dos movimentos de quem passa. Fala-se muito alto para não haver dúvidas, ouve-se a presença pela voz e não interessa o que se conta, apenas ecos da nossa própria história. É preciso falar para calar a dúvida do silêncio. As palavras identificam-nos provisoriamente, espalham a nossa posição antes que se instalem interrogações mudas, uma existência pintada pelos outros. Vou até ao café mais próximo e a vida compadece-me na evidência intencional para que pendemos no acerto do passo. A existência é dotada de uma comicidade directiva que chega a ser triste quando nos pomos a sentir com os outros. Uma regressão imposta para darmos mais um passo, voltar atrás para continuarmos, gargalhada de improviso invocando o possível, desvio que depois deixa de o ser, o cão que passa, o velho que ri, andar eu assim pela rua abaixo em movimentos periféricos que se esbatem numa tela já vista. Tudo é comicamente triste. Cómico na autenticidade, triste na antevisão. O já visto que nos leva à morte negada, paradoxo edificado para um fim enviesado e atirado na explosão dos sentidos. Um sorriso que desmascara uma verdade arrancada de surpresa, a certeza de sermos assim sem sermos a nossa própria causa. Cumprimos a nossa essência em gracejos autênticos e tristes, uma certeza que se torna triste porque confinada à própria evidência. Triste na antevisão, triste no que já sabemos ter fim.
P.A.