Desde hoje que fiquei numa espera insana cravada numa fonte impensada, posto ao desinteresse das horas como um sentinela do vazio, a achar-me noutro lugar e não poder voltar, a olhar-me noutro eixo sem nexo, de queixo perplexo entre mãos desencontradas.
Desde hoje que fiquei longe no silêncio de uma entrada gratuita, e que sempre soube interdita a quem espera outra vida como uma viagem que não é coisa séria quando a luz não se altera.
Desde hoje que recordo momentos em que não vivo, figuras de quem se interrompeu a voz e com ela intenções perdidas numa galeria morta ao adejar da luz, um desfile lento e quebrado a carregar as últimas forças.
Desde hoje que o passado se dispõe ao acaso sem interesse ou vontade, contra um fundo escurecido de lágrimas e sorrisos e enorme lassidão, um lugar deixado vazio de onde fujo num amplo paradoxo de marcas sumidas.
Desde hoje que a poeira se ergue no olhar cerrado em volta de uma pedra, o coração estancado numa ausência ignorada, o fantasma das horas no desenlace do tempo, a simples razão porque existo entre um passado suposto e um homem visto.
P.A.