quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Filhos do tempo






Dias e noites vitais
Remoinhos sãos
Pensamentos irreais
Reais e pensadas mãos.

A terra e seus caminhos
Puras as horas se mantêm
Sem conhecerem espinhos
Que de outra morte vêm.

O finito tempo tece
Razões envenenadas
Que o pensamento
Desconhece senão
Em amargas horas
Paradas…

A morte do outro
É a indecisão de ser
Porque nele permaneço
Entre olhar e não ver
Vivo ou desapareço.

Estou velado ao ser
Que há em mim
E a morte do outro
É o meu fim…

P.A.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A tua beleza é




A tua beleza é um monumento imprevisto,
Um mar extenso de paixão e mudança,
Uma certeza incontornável que se engrandece
na visão do tempo e se fixa em todos os lugares
a propósito de uma ideia ou de nenhuma outra coisa
que não seja existir, simples e solenemente,
como tudo o que persiste para além da morte percebida,
e se ama uma só vez pelo infinito dos tempos...



P.A.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Django libertado"





Sobre o filme, como qualquer filme, só visto… Quentin Tarantino, na minha opinião, é um excelente realizador, porquê? Porque sabe filmar. Parece óbvio, mas não é. O cinema massificado, computorizado e alienado que insiste nos meios comerciais, já não deixa perceber quem sabe filmar. Sinto que Tarantino tem prazer em filmar, ou seja, tem gosto pela arte de filmar. Por isso os seus filmes não são mais do que isso mesmo, filmes. Vou tentar explicar. Quando estou a ver um filme de Tarantino, não me ocorre outra coisa que não seja, estou a ver um filme. Parece óbvio, mas não é. Há filmes que tentam reproduzir a realidade, há filmes que são o imaginário fantástico de outros mundos, outros que exploram os dramas e desejos da vida comum, outros ainda que recriam acontecimentos históricos, outros e outros. Podem ser bons filmes, mas nunca tenho este sentimento que é; Estou a ver um filme. Por outras palavras, Tarantino leva-me a ver um filme para eu ver o que é filmar. O argumento é banal mas não indiferente. O desejo de vingança tão corriqueiro nos filmes “the western”, é filmado através de um processo de negociação, magia e sedução dos personagens principais, que nos transporta para a tal segunda realidade que é o cinema, sem perder o contacto com as vicissitudes reais que envolvem sentimentos profundos, como a vingança, ódio, injustiça ou humilhação, despoletados pela escravidão mais cruel. Mesmo a violência, filmada com intensidade crescente, adquire uma sumptuosidade e volúpia próprias que deixa de ser real para se diluir num jogo paralelo de sensações, como um acto improvável e quase romântico. Se me perguntarem se o cinema ainda tem arte, eu responderei que sim e darei o exemplo de "Django libertado".



P.A.