quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O amor é...







O amor é o grande torpor da cidade,
Uma passagem trémula e fingida
Que chega a ser uma pequena verdade
Até se perder na paixão repetida.

O amor é uma fantasia atordoada,
Desconcertante, que falha no tempo
De Outono como a luz desviada,
E perde a viva cor pela voz do vento.

O amor é a contemplação da morte,
O impossível dos vivos e esperançados,
Um estado precário de vidro e corte
Que se esvai em corações abandonados.

O amor é a coroação dos infiéis e enganados,
O topázio que não se hesita em quebrar ao meio
Enquanto se vem a saber que já não são amados,
Porque de promessas têm eles o frigorífico cheio…



P.A.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Para além das palavras






Esgotei as palavras meramente
Ao ouvir-te o interior de excepção,
Ao escutar-te verdadeiramente
E embalar-me na profunda intenção
Do valor da tua voz singular,
Esvaziar-me da minha posição
E atento permanecer sem falar.

Antes do comum significado
De um discurso entendido,
Está a condição do ser dado
E o esforço de ser conhecido

Todas as palavras são residuais,
Imperfeições do eu tangível,
Código cru entre almas desiguais
Em que o teu ser é indizível.

A tua fala é o sentido original
No eixo da existência atendível,
Um poder criador não nominal
Em que o teu ser é indizível

Quando tu falas passas a existir
Na pura linguagem permanente
Como todas as formas se sentir
Que a tua voz torna presente.

Uma pausa no momento exacto,
Um silêncio para poder sentir-te,
E se te respondo de imediato
É porque não estou a ouvir-te…



P.A.