quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Singularidade Absoluta




Fotografia de:  Rute Talefe


Não imaginava a morte na sua encenação
Muda e sombria,
Com leves murmúrios pela noite intermitente
E silenciosa.
Não vivia cada instante como uma perspectiva
Que se antevia,
Um conforto distante, uma pequena acção engenhosa.


Não conhecia o corpo inteiro na singularidade
Absoluta,
Intimamente imerso na tarefa oculta
E vital,
Preso apenas a uma causa ínfima
E involuta,
Distinta carcaça simplesmente esfumada e frugal.


Não ouvia o silêncio por dentro da porta
Sem motivo aparente,
O voo rasante da alma como o som do violoncelo
Pela tarde morta,
O fim sereno estendido a um desejo insolvente,
Numa quietude expectante,
Perfeito paciente do tempo constante.


Sinto só este composto único de direcções
No grande universo de relações.
Um dever maior, um aproveitamento eficaz
Da missão de paz
Tão clara e suficiente que me é pessoalmente conferida,
A necessidade de estar e uma confrontação
Definida.

Tenho a certeza que o tempo é assim um traço fundo
Pela interioridade,
Uma estrada sem princípio nem fim, uma vida a correr parada
Pela eternidade.



P.A.

1 comentário:

Rute disse...

Paulo

'Peguei' no teu primeiro verso, baralhei as palavras e voltei a dá-las. Seria assim o meu poema (ensaio)

" Distinta e vital, silenciosa
vivia cada instante
com leves murmúrios
pela noite intermitente" (...)

1 bj