domingo, 25 de maio de 2008

Aldeia de Xisto


Poderia ser uma qualquer Aldeia perdida num Pais distante e exótico, motivo que tantas vezes nos faz percorrer milhares de quilómetros para saborearmos à pressa outros lugares, porventura vulgares, e que apenas se escondem envergonhados na memória fotográfica de turistas impacientes. É uma das dez Aldeias históricas de Portugal, talvez por isso, com muitas histórias para investigar e seduzir em pequenos folhetos turísticos, porque é isto meus amigos, que o País tem que vender à União Europeia, aquela unidade hipotética de esforços incompreendidos que ameaça a identidade das nações dissolvida na necessidade comum, aquela unidade que acaba muitas vezes numa metáfora morta entulhada de palavras sem raiz real.


Descemos à aldeia. Como está tudo tão longe! Tão longe mas reconhecido pelo silencio da nossa estada, porque não há vida desencontrada nem caminhos perdidos, apenas uma presença inflamada pela intenção das cores, lugares que se formaram para assinalarem a origem emergente do povo num território usurpado aos desígnios de Deus. Descemos à Aldeia, protegida do infinito de tudo, habitada pela necessidade de haver lugares distantes, aparecidos de uma antiga recompensa concedida pela terra a homens amortecidos na incerteza dos visitantes. A serra do Açor acolhe a Aldeia que vai crescendo pelo frémito das fachadas, ruelas que vão irrompendo na novidade que se compadece, espíritos intermitentes comunicam no silêncio das pedras que cobrem a Aldeia no limite do saber comum. A certeza das ruelas resvala pelo equívoco dos passos que se estancam por momentos na encosta incompleta, e acerca-se dos sentidos emparedados, resfriados pela pausa que fazemos à vida numa missão revista. Aqui os sentidos não pensam, descobrem-se sem poder desdizer uma Aldeia por acontecer e outra razão dispensam, afinal são as casas de xisto a unidade que se justifica a si própria e pende para outra existência possível como ervas que insistem em crescer à beira dos caminhos.

P.A.

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