quarta-feira, 14 de maio de 2008

Bruma


É sempre a luz baça do dia
que pelos sentidos se antevê,
a causa de uma cidade fria
em que minha razão não crê.

É pela bruma da cidade tolhida
que se reparte o que não penso,
compassado por uma luz vestida
de sons raros que não dispenso.

As distâncias são o limiar da bruma
que se adensa no desconhecimento,
a cidade inteira que se avoluma
pela novidade do esquecimento.

O impensado pelas ruas a cindir
no compasso dos sons distantes,
é a condição da existência a fingir
pelos arruamentos inconstantes.

Convenço-me que a vida se entrevê apenas
pela cidade cheia e razão vazia,
não conheço por isso senão ruas amenas
pelo olhar da existência tardia.

P.A.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei imenso deste poema.
JM