“Mira Azenha” o café nevoeiro no fecho do dia, espíritos intermitentes comunicam no balastro que cobre a praia no limite do saber. O equívoco da praia que escalda entre os dedos, o cigarro que fumamos à vida numa missão revista. O nevoeiro semeia convicções sobre o fundamento das coisas, convida-nos para o concílio de todos os tempos na alegria de bancos corridos e sorrisos errantes. Tento recuperar o momento como tantos outros momentos que escapam ao real pelo fluxo virtual de acontecimentos, que embora reais, discutem-se na ausência entre distâncias percorridas por impulsos eléctricos, activados por voz e teclados suspensos no emaranhado de cabos sem direcção certa. Tento recuperar o momento no acaso de uma bebida no “Mira Azenha”, um momento que se aproprie do tempo e espaço respectivos, conciliado na sequência de instantes vividos particularmente, materializado num corpo prostrado na cadeira, cotovelos na mesa, olhar desmaiado na certeza das formas desenhadas ao longo da arriba enevoada pela extensa brisa de luz regular. Tempo houve em que a presença no mundo se intuía pela incerteza e desconhecimento dos fenómenos naturais, numa interpretação mágica e mítica, eclodindo numa simbiose total como o olhar infantil. A história terá sido tão só o trabalho de pôr o homem em evidência como um factor capaz de descodificar a natureza, mas também capaz de criar novos códigos para dela se apropriar e depois modificar sem limite. O esforço de descentração isolou-nos do mundo, a consciência de sermos menos que o ser (entendido este como entidade perfeita) e mais do que o nada, pôs-nos a caminho de uma história protagonizada pela aventura do espírito. Chegados ao presente, segundo Fukuyama, ao “Fim da História”, neste caso, ao fim da aventura, perguntamos o que é que se segue?
Quando a história acaba começamos nova história ou vamos embora. Parece-me muito cedo para abandonarmos o barco, mesmo que este esteja à deriva na tempestade de incertezas, que insiste todos os dias em pôr em causa o caminho escolhido. O abandono exigiria o colapso material, extinção pela autodestruição ou por catástrofe natural. Se tal não acontecer, existem muitos assuntos pendentes para resolver e outros que, subsequentemente, sempre alimentarão o espírito insaciável, num processo constante de busca que poderá ser cada vez mais complexo e reflexivo. Complexidade e “reflexividade” prosseguem em paralelo como causa e efeito uma da outra. Entrámos, porventura, no prefácio de uma nova história, onde a intensidade e complexidade crescentes das relações mundiais, a tal globalização, implicam, e por sua vez resultam, segundo Giddens, da “reflexividade” constante, entendida como a reavaliação permanente da realidade social, cujo resultado fluí pela razão desconfortante de nada ser dado como simplesmente adquirido.
Perante tanta incerteza imediata e desconhecimento do futuro, o mais provável é estarmos a regressar à interpretação mágica e mítica da realidade, com efeitos no comportamento ansioso e alienante, de resto, a toma massiva de tranquilizantes é disso um bom indicador. Daí os nossos dias serem abatidos por uma mística decadente que agita as massas em todas as direcções pelo vórtice da incerteza, do desconhecido, do risco, da ameaça. Daí as razões mais desconcertantes de união e separação, expansão e contracção, presença e ausência, organização e caos, movimentos circulares em torno de uma grande raiz oculta. Tento recuperar o momento, justificá-lo no espaço e tempo precisos, radicado no café nevoeiro no fecho do dia, encaixado nesta espera que refaz o olhar sob outro eixo quando o reflexo das mesas e cadeiras adquire outro nexo. Sobra o interesse da hora de poder achar-me neste lugar, o descanso de poder regressar com demora porque a viagem não é coisa séria quando o dia não se altera.
P.A.
Quando a história acaba começamos nova história ou vamos embora. Parece-me muito cedo para abandonarmos o barco, mesmo que este esteja à deriva na tempestade de incertezas, que insiste todos os dias em pôr em causa o caminho escolhido. O abandono exigiria o colapso material, extinção pela autodestruição ou por catástrofe natural. Se tal não acontecer, existem muitos assuntos pendentes para resolver e outros que, subsequentemente, sempre alimentarão o espírito insaciável, num processo constante de busca que poderá ser cada vez mais complexo e reflexivo. Complexidade e “reflexividade” prosseguem em paralelo como causa e efeito uma da outra. Entrámos, porventura, no prefácio de uma nova história, onde a intensidade e complexidade crescentes das relações mundiais, a tal globalização, implicam, e por sua vez resultam, segundo Giddens, da “reflexividade” constante, entendida como a reavaliação permanente da realidade social, cujo resultado fluí pela razão desconfortante de nada ser dado como simplesmente adquirido.
Perante tanta incerteza imediata e desconhecimento do futuro, o mais provável é estarmos a regressar à interpretação mágica e mítica da realidade, com efeitos no comportamento ansioso e alienante, de resto, a toma massiva de tranquilizantes é disso um bom indicador. Daí os nossos dias serem abatidos por uma mística decadente que agita as massas em todas as direcções pelo vórtice da incerteza, do desconhecido, do risco, da ameaça. Daí as razões mais desconcertantes de união e separação, expansão e contracção, presença e ausência, organização e caos, movimentos circulares em torno de uma grande raiz oculta. Tento recuperar o momento, justificá-lo no espaço e tempo precisos, radicado no café nevoeiro no fecho do dia, encaixado nesta espera que refaz o olhar sob outro eixo quando o reflexo das mesas e cadeiras adquire outro nexo. Sobra o interesse da hora de poder achar-me neste lugar, o descanso de poder regressar com demora porque a viagem não é coisa séria quando o dia não se altera.
P.A.
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