quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Pretextos


“É provável que o direito de intervenção humanitária venha a ser mais frequentemente invocado nos anos vindouros – talvez justificadamente, talvez não – agora que o sistema de dissuasão entrou em colapso (permitindo mais liberdade de acção) e que os pretextos da guerra fria perderam a sua eficácia (o que obriga ao surgimento de novos pretextos)”

Chomsky, Noam – “ O Novo Humanismo Militar”, 1999

No contexto da nova ordem mundial, parece-me oportuno transcrever Noam Chomsky sobre a intervenção da Nato na Jugoslávia na sequência da crise do Kosovo. No seguimento desta intervenção adianta o autor o surgimento de uma nova era das questões mundiais, uma era em que os “Estados iluminados” poderão usar a força nos casos em que a “considerem justa”, ignorando as “antigas e restritivas leis” e obedecendo a “modernas noções de Justiça” que modelam à sua própria maneira. “A crise no Kososvo ilustra… a nova disposição da América para fazer o que considera justo – não obstante o direito internacional”

A intervenção militar da NATO liderada pelos E.U.A., sob o pretexto de uma acção humanitária como resposta às atrocidades Sérvias no Kosovo, encontra algo de semelhante na intervenção militar no Iraque, desta vez sob novo pretexto, já completamente desmistificado, a segurança mundial face à ameaça de armas de destruição maciça. Pretexto este que, pontualmente se entrelaçava noutro pretexto, também ele humanitário, a violação dos direitos humanos de Saddam Hussein sobre o seu próprio povo.

No jogo de pretextos resta-nos saber qual o pretexto que prevalece à nova ordem mundial, liderada por uma só potência que não hesita muito em substituir os palcos diplomáticos pelos cenários de guerra. Se esse pretexto que, em tempo oportuno, deverá ser subjacente a uma avaliação histórica e rigorosa dos factos e uma previsão consciente dos acontecimentos, não emanar das instituições convencionalmente reguladoras, então corremos o risco de, como diz um amigo, “ quem vier a seguir que feche a porta”, ou pelo menos, que ajude o tempo a apagar o erro da memória colectiva.

P.A.

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