quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Who are you?




Serás a luz de um barco
No silêncio da noite?
Um caminho estreito
Que se perde no escuro
Da razão?

Serás uma árvore declinada
Sobre a água que escorre
Da montanha, invocando
O consolo secreto
De se viver
O momento?

Serás esta estrada
Que me leva ao sabor
De uma noção
Fragmentada?
Uma ideia interposta
Que se anuncia pela
Singular vontade de
Viver sem estar?
Um espírito que resgata
Levemente todas as
Forças para refazer
A essência do real?

Serás tudo em simultâneo
E algo em particular?
A consciência global que
Dá sentido ao efémero
Sentimento deste estado
De coisas?

A imperfeita necessidade
De não estar só a viver
As impressões do mundo?
Mas de as chamar à tua existência
Unida por pontos dispersos e invisíveis?

Quem és tu? Que não conheço
Senão quando mergulho no silêncio
Fantástico da noite e aguardo sem
Esforço que a situação me recorde
O que para sempre ficará de ti…


P.A.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Folhas de Outono



Lembro-me das folhas de Outono
Entre os ramos secos da memória,
Do ínfimo pormenor do teu sono
A pairar secreto para além da razão
Acessória, até ao fundo de um aroma
Perdido, como um sonho cansado e
Triste que sem querer persiste noutra
Forma achada em tempo despido.

Lembro-me das cores imprecisas
Da tua face à luz de um abraço,
De um pequeno suspiro invulgar
Num grande amor indeciso,
Um estilhaço de corpo, uma voz
Ardente, um prazer espalhado
Por outro lugar entre ramos
Secos da memória, agora sem
Razão corpórea como as folhas
De Outono…



P.A.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A árvore e o deserto





A árvore e o deserto
Deve ser o meu modo
De estar ao certo,
De que não me incomodo
Por ser assim
A minha essência
Em estado de insolvência
Sem princípio nem fim…


P.A.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Presente não presente





O presente é sempre uma
Memória do que acontecerá,
A história por escrever sobre
O que não se alcança,
A certeza e a esperança
Aqui e agora, entre tudo e nada
Como a marcha parada
E o adiar da hora.

O presente é sempre uma
Ideia do que acontece entre
Dois mundos, o motivo que
Se perde em vales profundos
E não lembra a presente
Quimera, porque a vida
É um tempo de espera.

O presente não se agarra
Nem se deixa, não é a
Chegada nem um beijo
de adeus, é mera tensão
De ser perante Deus, assim
Como a vida é tempo de espera.



P.A.

sábado, 31 de agosto de 2013

De um tempo





São pedaços de um tempo qualquer,
Lembranças mortas que foram vivas
Intenções, desfeitas no rosto indistinto
Que no esquecimento de outro mar vier,
Visões minhas de um tempo reposto.

São destroços de um mar prudente,
Desejos interrompidos que foram
Ondas ardentes, desfeitos no corpo
Futuro que seguirá indiferente,
Certeza minha de um tempo morto.

São despojos de um espírito eterno
A esperança única do olhar escondido,
Que de longe assiste a este inferno,
Morte esta de um tempo aludido.



P.A.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Uma porta







Uma porta sempre nos transporta
Nas palavras que não se dizem
Pela imaginação do real...



P.A.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Nunca se sabe...







Nunca se sabe e nunca se esquece
Este lado que não sabe do outro lado,
Que não vê o que esconde ou aparece
Como segredo que não pode ser falado…

A rotina que não sabe da outra rotina,
Seguem regras e deveres de costas voltadas
Segundo a verdade que ditou a sina,
Por entre vergonhas e desconfianças veladas.

Nunca se sabe e nunca se esquece
A religião que se resguarda do olhar,
Que não vê o que esconde ou aparece
Como o amor que falta encontrar…



P.A.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Outra madrugada





Outra madrugada mais clara
Entre o espelho do nada e a luz
Desperta, ainda algo incerta
Como aquele mar que seduz,
Mesmo antes dos nomes e coisas
Que nunca chegam a explicar
Por dúvida minha e deste lugar,
A aprofundar-se no sentimento
Da madrugada a confidenciar
A razão de viver este momento.



P.A.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Outro nada






Madrugada sem nada como o espelho
A que me assisto também sem nada,
Antes das palavras e dos gestos que
Que não chegam a ser o que são por
Indefinição minha e de tudo o resto,
Antes mesmo de qualquer luz entre
O nada e outra coisa que se produz
À superfície dos sentidos, e se perde
Sem lugar no espelho do nada,
Como a madrugada desta condição
De estar a olhar-me sem razão.


P.A.

domingo, 23 de junho de 2013

A sorte e o vento






Há um dia que a sorte e o vento
Se arrastam para um mar de prosas,
Como gotas do acaso num barco de rosas
E inundam o peito de estranho sentimento.

Há um dia que a sorte e o vento
Deixam olhos raiados de coragem,
À luz do sol na pedra que não cansa,
Mas leva para outra dança
As voltas da vida suadas,
Seguras pela aragem
E esperança.

Há um dia que a sorte e o vento
São o único alimento, o sangue
Perpétuo, o choro profundo,
Chama no calor acesa, rasgo
De sentimento e certeza
Que a vida é a causa
Final.


P.A.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Resistir




Sou apenas a certeza de um corpo
Que resiste a um nome e morada
E a todas as construções do tempo
Que são o conhecimento sobre nós.
A peça de uma engrenagem que se
Solta em tantos momentos para se
Reiniciar na marcha sem regresso,
Em direcção a destinos inumeráveis
E desconhecidos, ocupados pelo apuro
E vazio da cegueira e inércia totais.
Intruso entre a génese de um código
Oculto e a exposição aberta dos sentidos.
Mera efusão de sentimentos que
Escapa por entre colossais muralhas
Omniscientes, e se perde no âmago
Indecifrável do ser etéreo.


P.A.

sábado, 16 de março de 2013

Que razão





Que razão perdura entre nós
Mesmo no silêncio de amigos
Formado por palavras sós
Como eternos desconhecidos.

Agora só te encontro ao fim
Da noite, entre sombras plantada
Por trás de uma ideia de mim,
Assim como uma visão cansada.

Conjectura-se que algo está mal
No interior aparente sem razão,
Sabe-se que a vida é um esforço natural,
Círculo preenchido por fogo sem direcção.

A derradeira causa é pura distracção,
Uma evidência a que sempre resisto,
A vida a que nunca dei atenção
Pela única razão de não ser visto.

Tudo está em tudo e de repente
Tudo morre pela luz saturada,
Como um sonho que não se sente
E onde os olhos cegam à entrada.



P.A.

domingo, 10 de março de 2013

Fuga




Hoje o mar anuncia
Mudança numa pequena
Praia provisória,
Mas a imensidão
E profundidade das
Águas fixam uma
Única razão para
A existência, aquela
Que se vive com paixão
 sem reservas em
Direcção ao desconhecido…

P.A.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Filhos do tempo






Dias e noites vitais
Remoinhos sãos
Pensamentos irreais
Reais e pensadas mãos.

A terra e seus caminhos
Puras as horas se mantêm
Sem conhecerem espinhos
Que de outra morte vêm.

O finito tempo tece
Razões envenenadas
Que o pensamento
Desconhece senão
Em amargas horas
Paradas…

A morte do outro
É a indecisão de ser
Porque nele permaneço
Entre olhar e não ver
Vivo ou desapareço.

Estou velado ao ser
Que há em mim
E a morte do outro
É o meu fim…

P.A.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A tua beleza é




A tua beleza é um monumento imprevisto,
Um mar extenso de paixão e mudança,
Uma certeza incontornável que se engrandece
na visão do tempo e se fixa em todos os lugares
a propósito de uma ideia ou de nenhuma outra coisa
que não seja existir, simples e solenemente,
como tudo o que persiste para além da morte percebida,
e se ama uma só vez pelo infinito dos tempos...



P.A.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Django libertado"





Sobre o filme, como qualquer filme, só visto… Quentin Tarantino, na minha opinião, é um excelente realizador, porquê? Porque sabe filmar. Parece óbvio, mas não é. O cinema massificado, computorizado e alienado que insiste nos meios comerciais, já não deixa perceber quem sabe filmar. Sinto que Tarantino tem prazer em filmar, ou seja, tem gosto pela arte de filmar. Por isso os seus filmes não são mais do que isso mesmo, filmes. Vou tentar explicar. Quando estou a ver um filme de Tarantino, não me ocorre outra coisa que não seja, estou a ver um filme. Parece óbvio, mas não é. Há filmes que tentam reproduzir a realidade, há filmes que são o imaginário fantástico de outros mundos, outros que exploram os dramas e desejos da vida comum, outros ainda que recriam acontecimentos históricos, outros e outros. Podem ser bons filmes, mas nunca tenho este sentimento que é; Estou a ver um filme. Por outras palavras, Tarantino leva-me a ver um filme para eu ver o que é filmar. O argumento é banal mas não indiferente. O desejo de vingança tão corriqueiro nos filmes “the western”, é filmado através de um processo de negociação, magia e sedução dos personagens principais, que nos transporta para a tal segunda realidade que é o cinema, sem perder o contacto com as vicissitudes reais que envolvem sentimentos profundos, como a vingança, ódio, injustiça ou humilhação, despoletados pela escravidão mais cruel. Mesmo a violência, filmada com intensidade crescente, adquire uma sumptuosidade e volúpia próprias que deixa de ser real para se diluir num jogo paralelo de sensações, como um acto improvável e quase romântico. Se me perguntarem se o cinema ainda tem arte, eu responderei que sim e darei o exemplo de "Django libertado".



P.A.


domingo, 20 de janeiro de 2013

Sem foto



É a tua beleza nua e invisível
que me põe em silêncio,
diante do abismo que
separa a perfeição
das coisas vãs...

P.A.