quinta-feira, 16 de agosto de 2007

UM SENTIMENTO


Há momentos em que os sentidos se amortizam numa síntese confusa e relaxante, quase anestesiante, e deixam de filtrar e interpretar os fenómenos como rotinas dadas e necessárias, para quebrarem a película do real e participarem na essência particular das coisas. Difícil é descrever essa essência como algo que me absorve para um estado corporal vibrante mas enternecedor da vida. É o que sinto por ti, que durante todos estes anos acompanhámos e penetrámos a história e o pulsar espontâneo um do outro, como se tudo se afigurasse compensador, fascinante e até impossível. Tenho tendência para complicar os sentimentos e as relações com os outros, acho mesmo que nunca consegui aceitar a simplicidade que rege o nosso caminho originário, no sentido da subsistência, aproveitamento e entrega perante a energia que nos circunda. Amo-te na diferença, quando tu nem sequer pertençes a este estado de agitação contemplativa que acaba sempre por se desfazer em pequenas esperanças de efeito imediato. Mas quando não pertençes parece que te amo ainda mais, porque deixas uma saudade e um desejo de te puxar para a aventura do inexplicável, do indizível, apenas para te mostar que o amor por ti é possível coexistir num espaço e tempo fora do ritmo comum. Pertençes ao meu caminho interior, ajudas a percorrê-lo com o teu andar firme e determinado, sinalizá-lo com o teu olhar intenso, enriquece-lo com o teu amor possuído de desejo e vontade de segregar novos ciclos vitais. Amo-te neste dia e em todos os dias que morremos na esperança de nunca morrermos, em que nos consumimos com prazer e dor como um puro "Robusto".

P.A.

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